quinta-feira, 8 de abril de 2010

Trenzinho da Alegria - Parte I

Eu rolo de rir lembrando das minhas loucuras quando criança, eu era feliz e não sabia, ou sabia?... Criança é bom porque pode fazer tudo né, não tem que prestar contas de nada, não tem maldade nas coisas, é tudo festa... A minha infância foi muito bem aproveitada, não tenho do que reclamar. E ao lembrar de algumas situações em específico, morro de rir, é tipo aqueles quadros “Meu passado me condena..” de programas de auditório.. Eu nunca fui muito normal, era esperto, mas um esperto do bem, porque até hoje odeio crianças chatas, do mal, tem gente que desde pequena já mostra que pende pro lado negro da vida né, mas eu não, sempre fui um moleque legal.

Quando criança, no interior, tinha uma época do ano que era especial pra todo mundo, a época do trenzinho da alegria... Podíamos estar fazendo o que for, quando ouvíamos a música corríamos pra rua para acompanhar o trenzinho, eu nunca entendia, por quê no trenzinho só tocava musica infantil ou baiana, o que tem a ver axé com criança? Até hoje não compreendi.

Nele haviam alguns personagens, em geral da Disney, com fantasias, que hoje considero ridículas, mas quando pequeno achávamos o máximo... Putz, o Mickey aqui na minha rua!!! Ficavamos loucos... Ah, e o Snoopy... A fantasia tava toda suja,mas não tinha problema, era o Snoopy... E por aí vai.. Será que o fofão tava com a espada amaldiçoada dele? Melhor não arriscar né.... Eu só tinha medo mesmo da Cuca...Aliás, morria de medo.. Não sei por quê.. Mas, enfim...

E aí é aquela festa né, eles descem do trem em movimento, brincam com a gente, jogam bala... É fascinante, só quem já passou por isso sabe como é legal... Só que aí as crianças vão crescendo um pouco e eles começam a deixar de dar atenção, só temos valor quando pequenininhos... No mínimo é porque esses maiorzinhos os pais não levarão pra andar de trenzinho.. É, o mundo é capitalista, só interessa se for rentável...

Mas enfim, todas as noites eu ia pra casa da minha irmã que era numa das avenidas principais da cidade, e lá ficava com minha sobrinha, menor que eu, mas nem tanto, ela era menor, bonitinha, um mimo... E finalmente chegou a época do trenzinho... Ouviamos o som ao longe, corríamos para a porta da rua para ver o famigerado trenzinho... E lá vinham eles fazendo graça, pra minha sobrinha claro.. Quando eu ganhava alguma coisa era uma bala, e olhe lá.. Aquilo me deixava puto, por que eu não recebia atenção dos bichos? Foram embora e eu com minha balinha..

Aí um dia pensei, não foi nem por maldade, eu tinha o dom de imitar alguns estereótipos, então pensei, vou fingir que sou um retardado, aleijado, sei lá, pra chamar a atenção dos bichos do trenzinho..Pensei, eles vão ver esse aleijadinho, moreninho, cabelo desgrenhado, vão ficar com dó e vão dar atenção e bala né... Aí claro, avisei pra minha sobrinha, ela só teria que fingir ser a amiguinha bonitinha e boazinha do aleijadinho...

Dito e feito, ouvimos o som, corremos pra porta, pra encarnar o papel de aleijado não foi difícil, mas era complicado, as pernas e braços tinham que ficar meio tortos, cabeça jogada de lado, olhos meio vesgos, bater os braços, só que um batido descompassado, meio que se debater com a parede, e claro, o toque final, babar... Ih, já ia esquecendo, tinha que soltar uns grunidos também, fingir que tava tentando falar e que a lingua tava embolada, parecia se lá o que...Quando eu lembro disso hoje chego à conclusão que eu era um ator, atormentado...

E lá vinha o trenzinho e eu já todo babado.. Aí foi bom dessa vez, eles vieram, fizeram carinho no aleijadinho, e eu dentro da minha condição tinha que babar mais ainda e me debater mais ainda para demonstrar alegria... Que palhaçada viu... Tudo isso pra ganhar a atenção dos bichos do trenzinho e balas.. Ainda bem que esses eram legais porque se fosse a Cuca.. É que eu tinha medo da Cuca, então se fosse ela, eu sairia correndo e chorando, seria na verdade o milagre da cuca né.. Fazer o aleijado andar... Seria ótimo pro curriculum da Cuca.. Putz, fazer o aleijadinho andar.

Passado o trenzinho, eu voltava ao normal, como se nada tivesse acontecido, fora a roupa mais suja e babado, aí recolhia as balas e voltava pra dentro de casa.. Aí escutava o som do trenzinho e voltava pra porta da rua, e começava tudo de novo...

Eu tinha contado pra minha irmã, mas ela não acreditou que eu tinha sido capaz disso e foi lá conferir, e lá veio o trenzinho e eu me debatendo, só que a louca da minha irma ficou lá perto vendo a cena e rolando de rir, quase pondo a baixo a minha encenação, aquele espetáculo.... Que raiva viu... Só faltava mijar de tanto rir... E o pior é que depois ainda vinha pedir bala... Acho que ela não teve infância..

Só que até hoje me pergunto se eles estavam ali por causa do aleijadinho ou por causa da minha sobrinha...Que dúvida cruel... Criança faz cada coisa viu..

Atenção que tem a segunda parte, em breve publicarei, aguardem...

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