terça-feira, 12 de abril de 2011

Psicólogo italiano mostra em livro que, em excesso, até amor é ruim

Essa é para você!! Tome vergonha na cara, se valorize e antes de amar alguém, ame a si mesma!!

O fim de um relacionamento levou Maria* ao fundo do poço. Sem suportar a vida longe do homem que amava, entrou em depressão, e, durante um momento de grande desespero, chegou a engolir diversos comprimidos. A situação só não foi mais grave porque amigas a ajudaram e a levaram ao hospital, onde recebeu atendimento. Assim como tantos homens e mulheres, a jovem de 28 anos foi mais uma vítima do amor excessivo, um sentimento de veneração tão grande por outra pessoa que faz a pessoa esquecer sua própria individualidade, anulando-se completamente e vivendo na dependência do outro. “Eu vivia igual a uma louca. Passei por cima de muita coisa que acredito”, relembra ela.

O ex-namorado, que nos primeiros dias voltou para seu lado, logo se distanciou novamente. “Eu já sabia que estava errada, mas me arrependi mais ainda quando, dois dias depois de aquilo ter acontecido, ele disse que não tinha nenhuma responsabilidade sobre minhas ações, que não tinha culpa de nada”, conta.

O relacionamento era tão nocivo que Maria se via como louca e irresponsável. “Uma da características da mulher que ama demais é manter relacionamentos com homens manipuladores que a fazem acreditar que tudo que acontece de errado no relacionamento e até em sua vida particular é culpa dela”, afirma.

Hoje, a situação está melhor. Depois do desespero, Maria percebeu que precisava de ajuda. Pesquisando na internet, encontrou o serviço Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada), grupo de ajuda mútua criado aos moldes dos Alcoólicos Anônimos (AA) e que presta apoio a mulheres vítimas de relacionamentos destrutivos. “Meu processo de cura ainda acontece. Na verdade, uma Mada é como um alcoólico em recuperação. Deve-se evitar o primeiro descontrole, a primeira perda das rédeas do nosso querer. É como um alcoolista que deve evitar o primeiro copo”, diz.

O caso da brasiliense está longe de ser exceção. Apesar de não existirem estatísticas oficiais sobre o problema, os psicólogos afirmam que relacionamentos em que o amor excessivo torna-se destrutivo são muito comuns. Agora, uma nova obra busca ajudar esses pacientes. Em Manual para não morrer de amor (Academia), lançado no Brasil este mês, o psicólogo italiano Walter Riso mostra algumas das principais razões que levam alguém a abrir mão da própria vida em razão de um sentimento doentio por outra pessoa. “Para muitos, o amor é uma carga, uma doce e inevitável dor, ou uma cruz que têm de carregar, pois não sabem, não podem ou não querem amar de maneira mais saudável e inteligente”, afirma Riso em seu livro.

Segundo o especialista, um relacionamento torna-se destrutivo quando no balanço entre ganhos e perdas de uma relação há mais aspectos negativos que positivos. “Para amar, não é preciso ‘morrer de amor’, sofrer, desvanecer-se, perder o norte, ser uno com o outro ou perder a identidade: isso é intoxicação afetiva”, descreve Riso. Assim, o pesquisador defende que é preciso tomar as rédeas da situação antes que o sentimento se torne algo descontrolado. “O amor tem uma inércia que pode nos levar para qualquer lugar se não interviermos e exercermos a nossa influência”, completa.

Tão complexas quanto as relações humanas são as causas do amor excessivo. Segundo especialistas, cada caso tem uma razão específica e precisa ser enfrentado de uma maneira diferente. “Não há algo que se possa rotular como um motivo único, mas, em geral, identificam-se problemas como baixa autoestima ou questões internas mal resolvidas”, conta a psicóloga Magda Semerene Galli. Por essa razão, é muito difícil que a própria vítima do amor excessivo perceba que tem um problema e procure ajuda. “Em geral, elas chegam ao consultório para lidar com outras questões, como problemas de relacionamentos. Durante a terapia, percebemos que, na verdade, se trata de um caso de amor excessivo”, afirma Magda.

Individualidade

É muito comum que os pacientes se percam entre os seus sentimentos e os do parceiro. “Em geral, quem sofre com o amor excessivo confunde sua própria vida, sua individualidade, com a do outro, muitas vezes anulando o que sente e o que deseja para viver em função do companheiro”, conta a psicóloga. “Isso, com o tempo, torna-se uma situação insustentável que leva a pessoa a se afundar mais e mais na dependência de um relacionamento destrutivo”, completa a psicóloga.

Para a terapeuta familiar Maraci Santana, entender e admitir o problema é importante, mas nem sempre é suficiente trazer paz de espírito para quem sofre da afetividade destrutiva. “Muitas vezes, a pessoa percebe que a situação não vai bem e sabe que precisa de ajuda, mas não consegue se libertar daquele relacionamento opressor, tamanha é a dependência”, afirma a especialista. Nesses casos, é importante procurar o quanto antes a ajuda de um grupo como o Mada ou de um psicólogo. “Há relações que simplesmente não têm solução, outras precisam apenas de uma pequena mudança e, nesses casos, uma ajuda especializada pode detectar em qual categoria o relacionamento se enquadra e qual é a melhor solução”, explica Maraci.

Ela aponta como primordial o papel dos pais para evitar um adulto dependente de relacionamentos. “Muitas vezes, uma pessoa sentimentalmente frágil teve uma infância com baixíssima autoestima. Também é comum pacientes com pais que mantinham uma relação instável”, afirma a especialista. “Isso cria um ciclo negativo em que essas pessoas tiveram pais com relacionamentos destrutivos, e passam o mesmo comportamento para os filhos”, conta. “Daí a importância de se tomar uma atitude rápida para evitar a perpetuação do problema”, completa a psicóloga.

No outro extremo, pais com o relacionamento bem resolvido tendem a passar mais confiança para seus filhos. Foi assim com a bancária Ana Paula Bérgamo, 35 anos, há 10 casada com o também bancário Márcio Lucena Moraes, 35. “Os meus pais tinham uma relação muito boa, cada um tinha espaço para sua individualidade, para sair com os amigos, ter uma vida independente, e acabei assimilando isso a minha vida”, conta Ana, mãe de duas crianças.

A confiança mútua do casal e a possibilidade de fazerem as atividades de que gostam independentemente do outro são a chave para o sucesso do relacionamento de uma década. “Nesse feirado da semana santa íamos viajar, mas por um problema no trabalho da Ana Paula ela não pôde ir. Nesse caso, não vimos por que eu deveria desistir da viagem”, exemplifica Márcio, que admite não ser comum uma liberdade tão grande entre os casais amigos. “Acho que é importante cada um ter seu espaço, para a relação continuar saudável. Se ela confia em mim e eu nela, por que não?”, completa

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2011/04/12/interna_ciencia_saude,247386/psicologo-italiano-mostra-em-livro-que-em-excesso-ate-amor-e-ruim.shtml

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